Manacá
Por : Guilherme Sorgine
Como o pequeno fruto arroxeado que lhe dá nome, resgatado da literatura de Ariano Suassuna e seu “Romance da Pedra do Reino”, o Manacá é produto de nossa terra. Goste-se ou não, há que se admitir: em nenhum outro lugar, que não o Brasil, poderia surgir banda igual. Tal qual tropicalistas contemporâneos, a banda explica para confundir, e confunde para esclarecer, antropofagizando influências heterogêneas, em diálogos improváveis, que muitas vezes extrapolam o puramente musical, contrapondo Cordel do Fogo Encantando ao neo-progressivo americano do Mars Volta; Movimento Armorial a Led Zeppelin e Queens of the Stone Age e Novos Baianos, dentre muitos outras das inúmeras combinações possíveis. As letras não deixam por menos, e versam sobre temas pouco comuns no árido cenário do pop/rock, tão diversos quanto as festas de reisado do Nordeste brasileiro e os movimentos sebastianistas do século XIX. As temáticas do Manacá são sólidas, como é a parede sonora que adiciona castanholas e viola à tradicional tríade baixo/guitarra/bateria. Em lugar de alienar, acrescenta; não menospreza, faz pensar. Fugindo da reverência passiva aos mestres em cuja fonte não se furta em beber, o Manacá ousa, lança mão da saudável imprudência permitida à juventude (e somente a ela) e clama por lugar próprio na música brasileira. Se a realidade futura estará a altura de tamanha pretensão, vale o clichê: só o tempo poderá dizer. Mas já estava na hora de uma banda chamar para si a responsabilidade do novo. E a meteórica ascensão do grupo dá o que pensar: em parcos 365 dias de existência, deixou a Zona Norte do Rio de Janeiro para conquistar alguns dos palcos mais tradicionais da cidade (Teatro Odisséia, Circo Voador, Cine Íris) e de fora dela, coroando sua curta trajetória com uma elogiada apresentação no Festival Mada, no Rio Grande do Norte. Seguindo rumo a um caminho que aponta para cima, o Manacá faz do que há de mais local sua porta de entrada para o global. É o Brasil para o mundo, e o mundo para o Brasil, sem apelar para batucadas de gringo nem se render ao purismo totalitário das manifestações pretensamente autênticas de nossa cultura. E nunca, nunca deixa de soar Rock, com ‘R’ sonoro e maiúsculo. Um alívio para ouvidos cansados.
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